Anna Karenina
- Paulo Leite

- 19 de set.
- 2 min de leitura

O barulho compassado de um trem ecoa como uma sentença inevitável. É nele que a vida e a morte de Anna parecem se cruzar, e é também nesse símbolo metálico que Joe Wright constrói a engrenagem visual de sua adaptação. Entre cenários que lembram palcos de teatro e figurinos que brilham como se fossem personagens por si só, a tragédia ganha forma diante dos olhos.
Baseado no clássico de Tolstói, o filme conta a história de Anna (Keira Knightley), presa a um casamento sem amor e ao peso de uma sociedade rígida, que se vê arrastada pela paixão devastadora por Vronsky (Aaron Taylor-Johnson). Joe Wright escolhe contar essa trama de modo ousado: muitas cenas se passam em palcos, cortinas e trocas rápidas, como se estivéssemos dentro de uma peça. Essa decisão pode soar estranha no início, mas logo percebemos como isso traduz a artificialidade da alta sociedade russa e o jogo de aparências que sufoca os personagens.
A direção é estilizada, mas nunca gratuita. A fotografia é exuberante, usando a luz para destacar o brilho e a escuridão que rondam Anna. Os figurinos de Jacqueline Durran são uma aula à parte, transmitindo status, repressão e desejo em cada detalhe. A trilha sonora, de Dario Marianelli, oscila entre o delicado e o dramático, acompanhando o coração da protagonista como se fosse seu próprio compasso.
Mais do que um romance trágico, Anna Karenina é um drama sobre escolhas e as consequências de enfrentar ou se submeter às normas sociais. É belo, intenso e incômodo ao mesmo tempo.
Se você gosta de filmes que unem estética ousada e emoção intensa, Anna Karenina é uma experiência que merece ser vivida. Pode não agradar a todos, mas quem se deixar levar vai encontrar um espetáculo visual arrebatador e uma reflexão sobre o preço da liberdade e do desejo.



