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A Espuma dos Dias

  • Foto do escritor: Paulo Leite
    Paulo Leite
  • 11 de set.
  • 2 min de leitura

poster do filme a espuma dos dias

Um piano que prepara coquetéis, um quarto que encolhe junto com a alegria de um casal, um universo onde o impossível é cotidiano. A Espuma dos Dias começa como um sonho luminoso, onde a imaginação de Michel Gondry se espalha em invenções visuais que parecem brincadeiras de criança, mas logo mergulha em um pesadelo delicado, onde o amor precisa resistir ao colapso do mundo.


A história acompanha Colin (Romain Duris), um homem rico e encantado pela vida, que se apaixona por Chloé (Audrey Tautou). O romance surge como uma dança leve, regada a cores e excentricidades. Porém, quando Chloé adoece de uma doença estranha — uma flor crescendo em seus pulmões — a fantasia alegre se deforma. Gondry transforma o cenário em metáfora: os ambientes ficam sombrios, as paredes se fecham, e até os personagens perdem vitalidade, refletindo a fragilidade da vida.


A direção brinca com o absurdo para traduzir sentimentos. Nada é gratuito: cada objeto, cada truque de câmera e cada deformação cenográfica ilustram a passagem da alegria para a dor. A fotografia é viva e colorida no início, quase infantil, mas vai se apagando em tons frios conforme o enredo mergulha na melancolia. A trilha sonora, especialmente com a presença de Duke Ellington, é parte essencial dessa atmosfera, jazz suave que, ao mesmo tempo, celebra e lamenta.


O resultado é um filme de fantasia romântica que também é drama existencial. Gondry não suaviza a tristeza, mas a envolve em poesia visual. É um filme que pode parecer caótico ou exagerado, mas se entrega de corpo e alma à ideia de que o amor, mesmo mágico, não está imune à crueldade da vida.


Assistir a A Espuma dos Dias é aceitar um convite: deixar-se levar por um mundo estranho, belo e doloroso. E, ao final, perceber que, apesar de todas as invenções, ele fala de algo muito simples, o medo de perder quem se ama. É um filme que divide opiniões, mas quem se permitir entrar nesse sonho vai sair tocado.

Tela Cheia. Descubra boas histórias. 2025 por Paulo Leite

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