Sombras da Noite
- Paulo Leite
- há 3 dias
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O olhar perdido de Barnabás Collins, ao despertar de seu caixão em um mundo completamente transformado, já traduz o tom do filme: um vampiro preso entre a nostalgia gótica do século XVIII e o choque colorido dos anos 70. A imagem dele caminhando por uma rua cercada de luzes de neon e outdoors psicodélicos é a síntese da estranheza que move essa história.
Tim Burton constrói um conto sombrio, mas recheado de ironia. A trama mistura melodrama familiar com sátira, criando um jogo entre o grotesco e o cômico. A atmosfera é rica em detalhes visuais: mansões decadentes, roupas extravagantes e contrastes que reforçam a sensação de deslocamento do protagonista. Johnny Depp entrega um Barnabás peculiar, exagerado em gestos e expressões, funcionando como um guia excêntrico dentro desse universo excêntrico. O elenco de apoio, com Michelle Pfeiffer e Eva Green, completa o mosaico com intensidade e carisma.
A estética, marca registrada de Burton, é um espetáculo à parte: cores vibrantes e cenários cheios de texturas criam um choque curioso com o clima sombrio dos personagens. A música de Danny Elfman sustenta o equilíbrio entre a melancolia e a sátira, enquanto clássicos dos anos 70 reforçam o tom irônico da narrativa. O resultado é uma obra que transita entre o terror gótico e a comédia de costumes.
É um filme para quem aprecia o humor ácido envolto em cenários que parecem pinturas góticas atravessadas por luzes de neon. Sombras da Noite diverte justamente por essa estranheza: rir de situações absurdas enquanto acompanha a busca sincera de Barnabás por um lugar no mundo. É uma experiência visual e emocional que, mesmo com suas extravagâncias, deixa a sensação de que vale a pena mergulhar nesse universo estranho e irresistível.