A Bruxa
- Paulo Leite

- 13 de ago.
- 2 min de leitura

O que realmente nos faz temer o desconhecido? É a falta de controle, o abandono, a solidão, ou a maldade que vive dentro de nós? Em A Bruxa, o diretor Robert Eggers nos convida a uma jornada angustiante por essas perguntas, não através de sustos fáceis, mas por um terror que se infiltra na nossa mente e coração. Este não é um filme de bruxas com chapéus pontudos, mas um retrato cru do medo e da fé, que nos faz sentir o frio na espinha da mesma forma que os personagens sentem.

À medida que a família de William é expulsa da comunidade e busca refúgio em uma fazenda isolada no meio da floresta, somos apresentados a uma dinâmica familiar frágil e cheia de tensão. Vemos William (Ralph Ineson) tentando manter sua fé e sua família unida, enquanto a angústia consome sua esposa Katherine (Kate Dickie). No entanto, o coração do filme é Thomasin, a filha mais velha, interpretada de forma espetacular por uma jovem e talentosa Anya Taylor-Joy. É através de seus olhos que a história se desenrola, e é a sua jornada que nos conecta com a família. Sentimos sua culpa, seu desespero, e, acima de tudo, sua luta para entender o que está acontecendo. Anya Taylor-Joy consegue transmitir um turbilhão de emoções apenas com um olhar, nos fazendo sentir toda a sua dor e solidão.

O diretor Robert Eggers tem uma forma de contar histórias que é quase como pintar um quadro. Ele usa a direção para nos fazer sentir o peso de cada decisão e a escuridão da floresta. O ritmo do filme pode parecer lento para alguns, mas é essa cadência que nos permite sentir cada minuto de isolamento da família. Eggers usa a câmera para nos colocar no meio da ação, fazendo-nos sentir como se estivéssemos ali, sentindo o vento, o frio e o medo. A fotografia, com suas cores escuras e a iluminação natural, evoca a sensação de estarmos em um tempo e lugar reais. A sensação de desconforto é intensificada pela trilha sonora, que, em vez de usar músicas clichês, usa sons estranhos, dissonantes, que parecem vir de um lugar antigo e assustador. O que ouvimos não é apenas música, mas o som do desespero e da paranoia crescendo.

O que o filme realmente quer nos dizer não é sobre bruxas voando em vassouras, mas sobre o poder da culpa, do fanatismo religioso e do medo. A verdadeira ameaça não é a figura na floresta, mas a semente da desconfiança que se instala na mente dos personagens, fazendo com que eles se voltem uns contra os outros. Essa é a genialidade do filme: ele nos faz questionar se o mal vem de fora, ou se ele já existia, latente, dentro da própria família.

Para quem se aventurar, é importante saber que o filme exige um pouco de paciência. Ele não é feito para dar sustos a todo momento, mas para construir uma atmosfera de tensão que nos sufoca aos poucos. Se você busca uma experiência de terror psicológico que vai te fazer pensar, e não apenas pular da cadeira, A Bruxa é a pedida certa. É um filme para quem gosta de ser desafiado a sentir e a refletir.




