Passageiros
- Paulo Leite
- 1 de ago.
- 3 min de leitura

Já se imaginou acordando cem anos antes do previsto em uma viagem espacial de 120 anos? E se, ao invés de pânico, a solidão se tornasse a sua maior inimiga? Essa é a premissa de Passageiros, um filme que nos convida a pensar sobre escolhas difíceis, a companhia humana e o que realmente importa quando o universo inteiro está lá fora.

Morten Tyldum, o diretor, nos leva por essa jornada de uma forma muito pessoal. Ele não está preocupado em nos mostrar grandes batalhas espaciais ou explosões mirabolantes. Em vez disso, a câmera dele foca nos rostos, nos pequenos gestos, nos dilemas que surgem quando se é o único ser acordado em uma nave gigantesca. É como se ele nos convidasse para sentar ao lado dos personagens e sentir o que eles sentem, passo a passo. A forma como a história é contada nos permite entender a solidão, a esperança e as decisões difíceis de uma maneira muito próxima.

No centro de tudo estão Jim Preston, interpretado com uma mistura de vulnerabilidade e determinação por Chris Pratt, e Aurora Lane, vivida com graça e complexidade por Jennifer Lawrence. Pratt, que geralmente vemos em papéis mais cômicos, nos surpreende aqui ao mostrar a profundidade de um homem em desespero, buscando uma conexão em um vazio inimaginável. Lawrence, por sua vez, entrega uma Aurora que transita da confusão à raiva e, finalmente, à compreensão, fazendo com que suas reações sejam sempre críveis e tocantes. É fácil se colocar no lugar deles, entender suas dores e torcer por suas jornadas. A química entre os dois é palpável e fundamental para que a história funcione, nos fazendo acreditar na construção daquele relacionamento em meio ao isolamento.

Visualmente, Passageiros é um espetáculo à parte. A nave espacial, a Avalon, é um personagem por si só, com seus ambientes luxuosos e futuristas, cheios de luzes vibrantes e uma arquitetura que nos faz sonhar com viagens intergalácticas. A fotografia é impecável, explorando o contraste entre o brilho das estrelas e a intimidade dos espaços fechados, criando um visual deslumbrante que ao mesmo tempo ressalta a grandiosidade do cosmos e a pequenez dos indivíduos.

A paleta de cores, que varia de tons frios e azuis no espaço sideral a tons mais quentes e convidativos dentro da nave, ajuda a guiar nossas emoções ao longo do filme. E não podemos esquecer da trilha sonora, que se encaixa perfeitamente, oscilando entre momentos de calmaria e tensão, realçando a emoção das cenas sem roubar a atenção. É a música que nos ajuda a sentir a melancolia da solidão e a euforia da conexão.

A grande sacada de Passageiros não está em sua sinopse, mas na forma como ele explora a condição humana diante de um dilema moral impossível. O filme questiona o que faríamos se a nossa felicidade dependesse de uma escolha que afeta a vida de outro. É uma reflexão profunda sobre empatia, sacrifício e a busca por significado em um universo vasto e, por vezes, indiferente. A proposta é nos fazer pensar sobre o que significa estar vivo, e se vale a pena ter uma vida perfeita se ela for vivida em total isolamento.

Alguns podem achar que o ritmo do filme é um pouco mais lento no início, ou que ele se concentra demais nos dois personagens principais. Mas é exatamente essa a intenção do diretor. Ao nos imergir na rotina de Jim e, posteriormente, de Aurora, somos convidados a sentir a passagem do tempo e a gradual, quase imperceptível, transformação do desespero em resiliência. Essa abordagem mais focada nos permite construir uma conexão profunda com eles, entendendo cada pequena vitória e cada novo desafio. Não é um filme de ação frenética, mas sim um drama íntimo que se passa no espaço, e é nessa intimidade que reside sua força.

Passageiros é um filme que vale a pena ser visto, especialmente se você gosta de dramas que te fazem pensar e sentir. É perfeito para quem aprecia histórias sobre superação, a complexidade dos relacionamentos humanos e a beleza do desconhecido. Prepare-se para uma viagem emocionante que te fará refletir muito depois que os créditos subirem.
