O Telefone preto
- Paulo Leite
- 26 de ago.
- 2 min de leitura

É possível encontrar esperança e força na voz dos que já se foram? Essa é a pergunta que O Telefone Preto, do diretor Scott Derrickson, nos faz logo de cara. O filme nos leva a um subúrbio dos anos 70, que à primeira vista parece calmo, mas que esconde uma atmosfera de medo por causa do desaparecimento de várias crianças.

No centro da história está Finney (Mason Thames), um garoto tímido e que vive com a irmã Gwen (Madeleine McGraw). A atuação de Mason é incrível por nos fazer sentir a vulnerabilidade de Finney. Ele é um garoto comum que, de repente, se encontra em uma situação extraordinária e assustadora. Sua força não vem de superpoderes, mas da sua capacidade de ouvir e aprender. A pequena Gwen, por sua vez, é a alma do filme. A atuação de Madeleine é tão natural que ela se torna a voz da esperança e da luta por justiça. Ela é a prova de que mesmo em um filme de terror, a família e o amor fraterno podem ser o foco.

A direção de Scott Derrickson é o coração da experiência. Ele constrói a tensão não com sustos baratos, mas com uma sensação de claustrofobia e desespero. A câmera nos coloca no lugar de Finney, sentindo cada centímetro daquele porão escuro e sujo. A fotografia, com seus tons de terra e luzes que parecem velhas, nos transporta direto para a década de 70, criando um ambiente sujo, mas que, ao mesmo tempo, nos faz sentir a nostalgia daquela época. É como se o filme nos dissesse: "essa história poderia ter acontecido em qualquer lugar, com qualquer criança". E é justamente essa sensação de realidade que o torna tão aterrorizante.

O ponto-chave do filme é a jornada de Finney para encontrar sua voz. Ele não luta sozinho. O telefone preto é o fio condutor da história, mas não se trata de mágica ou algo sobrenatural. É uma representação da memória e da solidariedade. Através das vozes das vítimas passadas, Finney encontra as ferramentas, as dicas e, acima de tudo, a coragem para enfrentar seu captor. O filme nos lembra que as experiências e a sabedoria de quem já passou por algo difícil podem se tornar o nosso guia.

Para quem espera sustos a cada esquina, O Telefone Preto pode parecer lento. Mas a intenção do diretor não é apenas te assustar, é te fazer sentir. A história se constrói aos poucos, com um ritmo que nos permite conectar com os personagens e sentir a tensão crescendo. Essa escolha de ritmo é uma força, não uma falha, pois nos faz ter a sensação de que, mesmo em meio ao medo, a esperança e a humanidade podem florescer.

O filme é uma ótima pedida para quem gosta de um thriller psicológico que te faz pensar e sentir, e não apenas pular da cadeira. Se você curte uma boa história de superação e drama, com uma pitada de terror bem construído, não pode deixar de assistir.
