Jojo Rabbit

Como seria possível encontrar humor em um dos períodos mais sombrios da história da humanidade? Jojo Rabbit, a obra-prima de Taika Waititi, nos mostra que, por mais inusitado que pareça, é possível, e essa é uma das muitas razões pelas quais esse filme é tão especial. Prepare-se para embarcar em uma jornada que mistura risadas e lágrimas, e que, acima de tudo, nos convida a refletir.

Desde o primeiro minuto, Waititi nos convida a entrar no mundo de Jojo (Roman Griffin Davis), um garoto de 10 anos que vive na Alemanha nazista e tem Hitler (interpretado pelo próprio Taika Waititi) como seu amigo imaginário. Pode parecer chocante à primeira vista, mas essa escolha, tão central para a proposta do filme, é um dos pilares que sustenta a narrativa. Através dos olhos ingênuos e da mente fantástica de uma criança, o filme nos apresenta a um cenário brutal com uma leveza que desarma, permitindo que a mensagem chegue de forma mais impactante.

A direção de Taika Waititi é um show à parte. Ele usa a câmera de uma forma que nos faz sentir parte do universo de Jojo, quase como se estivéssemos espiando suas brincadeiras e suas fantasias. A maneira como os enquadramentos brincam com a escala – o mundo grande e assustador visto pela perspectiva de um menino pequeno – é um exemplo de como a direção visualmente nos guia. A atuação de Roman Griffin Davis é simplesmente espetacular; ele carrega o filme com uma naturalidade impressionante, transmitindo a pureza, a confusão e a eventual desilusão de Jojo. Scarlett Johansson, como Rosie, a mãe de Jojo, entrega uma performance sensível e poderosa, sendo o coração do filme e a bússula moral para o jovem protagonista.

O visual do filme é vibrante e cheio de contrastes. Cores vivas e saturadas, que lembram a estética dos contos de fadas, são usadas para representar a perspectiva infantil de Jojo, criando um mundo quase idílico que contrasta drasticamente com a dura realidade da guerra. Os figurinos, apesar de serem uniformes militares, são apresentados com um toque de teatralidade que reforça a natureza cômica de alguns personagens, especialmente o Hitler imaginário. E a trilha sonora? Ah, ela é um personagem por si só! Repleta de canções pop dos anos 60, mas cantadas em alemão, ela cria um tom anacrônico proposital, reforçando a ideia de que o filme não busca ser um documento histórico, mas sim uma fábula. Essa escolha, por vezes, pode parecer inusitada ou até mesmo "fora do lugar" para alguns espectadores mais apegados ao realismo histórico, mas é exatamente essa subversão que permite a Waititi explorar temas complexos de uma forma acessível e, sim, hilária.

O ponto-chave da proposta de "Jojo Rabbit" é a desconstrução do ódio. O filme nos mostra como a ideologia pode ser inserida na mente de uma criança e como a experiência e o afeto são capazes de derrubar esses muros construídos pelo preconceito. A presença do amigo imaginário Hitler, que pode ser visto como o elemento mais "controversial", é, na verdade, uma ferramenta brilhante. Ele representa a voz da doutrinação, a personificação do ódio que Jojo foi ensinado a abraçar. À medida que Jojo amadurece e confronta a realidade, a figura de Hitler se torna cada vez mais patética e ridícula, espelhando a desilusão do menino com as ideologias que antes o moldavam. É uma forma didática e, por vezes, dolorosa de ilustrar como o ódio é ridículo quando confrontado com a humanidade e o amor.

"Jojo Rabbit" é um drama de guerra com toques de comédia e fantasia, recomendado para quem busca um filme que desafie convenções e provoque o riso e a reflexão. Se você está pronto para uma experiência cinematográfica que te fará sorrir, chorar e, acima de tudo, pensar sobre o poder da humanidade e a fragilidade do preconceito, então este filme é para você. Assista no modo Tela Cheia. Você não vai se arrepender!