Dunkirk
- Paulo Leite
- 18 de ago.
- 3 min de leitura

Quando pensamos em filmes de guerra, a nossa mente muitas vezes nos leva a histórias de heróis imbatíveis, batalhas grandiosas e vitórias gloriosas. Mas e se a guerra fosse sobre outra coisa? E se ela fosse sobre a sobrevivência, sobre a espera, sobre a simples e desesperada tentativa de voltar para casa? Dunkirk, dirigido por Christopher Nolan, nos convida a viver essa outra face do conflito, e ele faz isso de uma forma que você nunca viu.

O filme não te dá um panorama geral da Segunda Guerra Mundial. Em vez disso, ele te joga direto na areia fria da praia de Dunkirk, na França, onde cerca de 400 mil soldados britânicos e aliados estão encurralados, cercados pelo exército alemão, à espera de um milagre. A genialidade de Nolan aqui é que ele não te conta uma história no sentido tradicional... Ele te coloca no meio de uma experiência.

Para isso, o diretor usa um truque de mágica que talvez você nem perceba: a forma como o tempo funciona no filme. Nolan nos apresenta três linhas do tempo que se cruzam: a da praia, que dura uma semana; a do mar, que dura um dia; e a do ar, que dura apenas uma hora. Essa estrutura, que pode parecer confusa à primeira vista, é o que nos faz sentir a agonia da espera, a velocidade desesperada dos combates aéreos e a lentidão sufocante da travessia marítima. Em vez de nos dar todas as respostas, Nolan nos faz sentir o que os personagens sentem, nos deixando no mesmo estado de incerteza e tensão.

Os personagens, aliás, não são "heróis" no sentido clássico. Eles são, na maioria das vezes, anônimos e quase sem falas. O foco não é na sua história pessoal, mas em sua luta para sobreviver. Vemos o jovem Tommy (Fionn Whitehead), que só quer fugir daquele inferno. Conhecemos Farrier (Tom Hardy), um piloto de caça que defende os navios com um heroísmo silencioso, e o Sr. Dawson (Mark Rylance), um civil que atravessa o Canal da Mancha em seu pequeno barco para resgatar os soldados, mostrando que a coragem pode vir dos lugares mais inesperados. A atuação deles é minimalista e poderosa, transmitindo o terror e a esperança apenas com os olhos, com a respiração ofegante, com gestos de desespero e solidariedade. Não se trata de diálogos inspiradores, mas de uma profunda humanidade que transborda da tela.

A parte visual de Dunkirk é de tirar o fôlego. A fotografia, nos coloca dentro do cenário, nos fazendo sentir o sal do mar, a areia da praia e o peso daquele céu cinzento. A paleta de cores é quase monocromática, com tons de cinza, azul e marrom que reforçam o clima de desolação. Mas o que realmente eleva a experiência é a trilha sonora de Hans Zimmer. A música não é apenas um fundo; ela é o coração pulsante do filme, uma espécie de relógio que marca a contagem regressiva da tensão. O som de um tique-taque incessante se mistura com cordas e sons metálicos, criando um suspense que te agarra e não te solta.

Se você está esperando um épico de guerra com muitas explosões e sangue, talvez Dunkirk te surpreenda. O foco de Nolan não é na violência, mas no suspense e na sobrevivência. É uma história de homens que não lutam pela vitória, mas pela vida. O filme é um convite para entender que a verdadeira guerra não está apenas no campo de batalha, mas também na alma de quem a vive. É um filme para quem gosta de ser desafiado, para quem quer sentir o cinema de uma forma visceral, quase como se estivesse lá.
