Especial Baztan
- Paulo Leite
- 16 de ago.
- 3 min de leitura
Atualizado: 24 de ago.

Você já se perguntou o que acontece quando o passado e o presente se entrelaçam de uma forma tão profunda que a única maneira de seguir em frente é desvendando os segredos que moldaram sua própria história? A trilogia Baztan, adaptada dos romances de Dolores Redondo e dirigida por Fernando González Molina, nos convida a uma jornada intensa e assustadora pelo coração do Vale de Baztan, na Espanha. É uma história que vai muito além de um simples suspense policial, explorando as profundezas da alma humana, traumas familiares e a rica mitologia basca.

Nesta saga, conhecemos a inspetora de polícia Amaia Salazar, uma personagem complexa e fascinante (Marta Etura). Ela não é apenas uma investigadora perspicaz, mas uma mulher assombrada pelo seu próprio passado. Cada caso que ela investiga no vale de sua infância a obriga a revisitar memórias dolorosas, e a atuação de Etura nos faz sentir a dor, a determinação e a vulnerabilidade de Amaia de forma palpável. É a sua jornada interna que nos prende, tanto quanto o mistério dos crimes. A química entre os atores é notável, especialmente nas interações entre Amaia e sua família, que nos mostram como os laços de sangue podem ser, ao mesmo tempo, um porto seguro e uma prisão.

A direção de Fernando González Molina é um dos pontos altos da trilogia. Ele usa a câmera de uma forma que nos faz sentir como se estivéssemos caminhando lado a lado com Amaia, explorando os becos sombrios e as florestas densas do Vale de Baztan. O diretor tem um talento especial para nos fazer sentir o clima opressor e as tensões que rondam os personagens. Ele não se apressa, permitindo que a história se desenvolva no seu próprio ritmo, o que pode parecer um pouco lento para quem espera ação a todo instante, mas é uma escolha deliberada que nos ajuda a mergulhar na complexa teia de segredos familiares.

Visualmente, os filmes são um deleite para os olhos. A fotografia, com suas cores frias e paisagens deslumbrantes, cria uma atmosfera de conto de fadas sombrio. Cada detalhe, desde o figurino até os cenários, é pensado para nos transportar para o coração da cultura basca e seus mitos. A trilha sonora, por sua vez, é uma personagem por si só, com melodias que misturam elementos modernos e tradicionais, intensificando a sensação de mistério e perigo a cada cena. A música nos guia através dos altos e baixos emocionais da história, tornando a experiência ainda mais imersiva.

O ponto chave da trilogia é a fusão entre o racional e o sobrenatural. Enquanto Amaia tenta resolver os crimes com base em evidências, a mitologia do vale e as crenças de sua família a empurram para uma realidade que ela relutantemente precisa aceitar. O diretor consegue equilibrar essas duas forças sem cair no clichê, nos fazendo questionar o que é real e o que é lenda. É uma reflexão sobre como o passado e as tradições de um lugar podem influenciar de forma irreversível a vida de seus habitantes.

Embora a trilogia Baztan possa não agradar a todos que buscam um ritmo acelerado, essa característica é uma escolha de direção que recompensa a paciência do espectador. O tempo lento permite que a trama se aprofunde nos personagens e nos mistérios do Vale de Baztan, entregando uma história rica em detalhes e emoções. É uma obra que se constrói em cima de personagens bem desenvolvidos e uma trama cheia de reviravoltas.

Se você gosta de filmes que misturam drama familiar, mistério e uma boa dose de lendas, não perca a chance de mergulhar neste universo fascinante. Prepare-se para uma experiência arrepiante e emocionante que irá te manter preso à tela até o último minuto.
