A Maldição da Residência Hill

Se você pensa que terror é só susto, prepare-se para conhecer Mike Flanagan. Ele revoluciona o gênero, mostrando que o medo pode ser muito mais do que um "boo!". Suas histórias se infiltram na mente e tocam o coração, muitas vezes sem precisar de monstros. "A Maldição da Residência Hill" (2018) é o exemplo perfeito.

Em "A Maldição da Residência Hill", conhecemos os Crain. A família se muda para a antiga Residência Hill para reformá-la e vendê-la, mas os segredos do lugar mudariam para sempre a vida dos cinco filhos: Nell, Luke, Theo, Shirley e Steven.

Flanagan humaniza os personagens. Não são vítimas genéricas, mas pessoas reais com suas dores, passados complicados e segredos. A Theo, por exemplo, sente as emoções alheias; a Nell tem visões de uma "mulher do pescoço torto". Você se conecta com eles, entende suas motivações e torce por sua paz.

Como Steven revela no início da série, os fantasmas podem ser a culpa, o segredo, o arrependimento ou o fracasso. Muitas vezes, um fantasma é um desejo. Em "Hill", os fantasmas são alegorias para as fraturas psicológicas da família Crain. São premonições, fugas, heranças ou o medo do inexplicável. O medo, para Flanagan, não é só a ausência de lógica; é também o amor. Esse amor, inclusive, levou Hugh a negar o perigo da casa, sendo assombrado pelo passado, enquanto Olívia se perdia na lógica, assombrada pela casa e pelo futuro dos filhos.

Mike Flanagan usa a câmera como um convite. Ele não tem pressa; a câmera se move devagar, explorando os ambientes, imergindo-nos na atmosfera. Os planos longos, sem cortes, nos fazem caminhar com os personagens, sentindo o mesmo arrepio. Ele constrói a tensão aos poucos, sem sustos fáceis.

A cada episódio, nossa visão sobre os personagens muda. Os eventos são revisitados sob o olhar de cada um, revelando os segredos da Residência Hill. Um exemplo da ousadia de Flanagan é o episódio "Duas Tempestades" (S1E6): 57 minutos divididos em quatro planos sequências impecáveis. Para mim, é um dos melhores episódios da temporada, elevando a interação entre os personagens e explorando memórias e conflitos. Ali, entendemos como a família sobreviveu aos traumas e como o passado ainda assombra a vida adulta dos Crain.

Flanagan trabalha com um elenco espetacular, muitos repetindo papéis, como Carla Gugino, Kate Siegel, Victoria Pedretti e Henry Thomas. Eles não apenas interpretam, eles encarnam seus personagens. Vemos a dor, o desespero, a esperança em seus olhos. A atuação de Victoria Pedretti como Nell, por exemplo, é de partir o coração, transmitindo toda a fragilidade da personagem.

A fotografia é impecável, com uso inteligente de luz e sombra para criar ambientes que vão do belo ao aterrorizante, como as cores sombrias da Mansão Hill. Cenários e figurinos complementam a narrativa, criando uma atmosfera que nos envolve completamente.

A música é parte fundamental da narrativa. Composições melancólicas e emotivas intensificam os sentimentos, anunciando algo sombrio ou sublinhando um momento de grande emoção. A música nos guia, nos prepara e nos ajuda a sentir o que os personagens sentem.

Alguns podem achar o ritmo das séries de Flanagan mais lento. Mas essa é a intenção do diretor! Esse ritmo cadenciado aprofunda as emoções, instala a atmosfera e permite explorar temas complexos. Não é sobre o susto fácil, é sobre a tensão psicológica e o horror que se manifesta nas relações humanas e nos dilemas da vida.

No último episódio, as histórias se amarram naturalmente, e os personagens têm finais coerentes e satisfatórios. "A Residência Hill" fecha suas portas, mas a Netflix já avisava: "A Maldição da Residência Key" viria na sequência.

Se você busca um terror que vai além do susto e te faz refletir sobre a vida, a morte, a família e os medos que todos enfrentamos, "A Maldição da Residência Hill" e as outras séries de Mike Flanagan são para você. Prepare-se para uma experiência que vai assustar, mas também emocionar e fazer pensar. É uma jornada que mistura o sobrenatural com o profundamente humano, mostrando que os maiores monstros nem sempre têm garras, mas sim habitam nossas mentes e memórias. Dê uma chance.

Uma Curiosidade de Fã: O Mistério dos Grattan

Lembro de um detalhe instigante no episódio 9: a personagem Poppy começou a contar a história dos Grattan para Hugh, mas foi interrompida por Olívia. Será que essa interrupção tem um propósito? Os Grattan viveram na mansão antes dos Crain... Será que Poppy nos deixou uma pista sobre os protagonistas de uma nova temporada ou um spin-off? É fascinante!

Poppy fofocando sobre os Grattan para Hugh